1
Aceito com entusiasmo a máxima: “O melhor governo é o que
governa menos”; e gostaria de vê-la em prática com a maior rapidez e de forma
sistemática. Levada às últimas consequências, ela finalmente, ela finalmente
equivaleria a outra na qual também acredito:
“O melhor governo é o que absolutamente não governa”; e quando os homens estiverem preparados para isso, este será o tipo de
governo que terão. O governo na melhor das hipóteses é uma conveniência;
mas a maioria dos governos algumas vezes são inconvenientes, e todo governo
algum dia acaba por ser inconveniente. As inúmeras objeções feitas a um exército
permanente são graves e merecem prevalecer – e também devem ser feitas a um
governo permanente. O governo em si –
apenas a forma escolhida pelo povo para executar suas vontades – é igualmente
propenso a abusos e desvios, antes que a maioria do povo possa agir por seus
intermédios.
2
O governo norte-americano é uma espécie de arma de brinquedo
para o próprio povo, e nem por isso deixa de ser necessário, pois o povo
precisa ter um mecanismo complexo e ouvir seu ruído para satisfazer à própria
noção do governo que possui. Assim os governos mostram como o homem pode ter
sucesso em oprimir, e para proveito próprio, que também podem ser oprimidos, o
que devemos admitir, é excelente. Contudo, este governo nunca incentivou uma
iniciativa própria, mas apenas demonstrou vigor em apenas não atrapalhar
iniciativas. Ele não mantem o país livre. Ele não coloniza o oeste. Ele não educa.
O caráter inerente ao povo norte-americano que realizou a tudo isto, e teria
feito ainda mais se o governo em alguns momentos não tivesse atrapalhado. Pois
o governo é um artificio, por meio do qual os homens conseguiram de bom grado
deixar em paz uns aos outros; e como já foi dito, sua conveniência máxima
ocorre quando os governados são respeitados pelo governo.
3
Porém, para falar em termos práticos e como cidadão, ao contrário daqueles que se dizem antigovernistas,
eu não peço a extinção do governo de imediato, mas sim imediatamente um
governo melhor. Deixem que cada homem expresse o tipo de governo digno de
seu respeito, e este já será um passo para que ele vigore.
Thoreau
4
Penso que devemos
ser homens em primeiro lugar, e depois súditos. Não é desejável
cultivar pela lei o mesmo respeito que temos pelo direito. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer a
qualquer momento aquilo que considero certo. Diz-se com toda razão que uma corporação não
possui consciência; mas uma corporação de homens conscientes é uma corporação
com uma consciência. As leis nunca
tornaram os homens mais justos; e pelo respeitos às normas, até os cidadãos
de boa vontade tornaram-se diariamente agentes de injustiça.
5
Vim ao mundo não com o objetivo principal de torna-lo um
lugar bom para viver, mas para viver nele, sendo bom ou ruim. Um homem não tem tudo, mas apenas algo a
fazer; e por não fazer tudo, não é necessário que ele faça algo errado.
6
Sob um governo que prende qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar de um homem justo também
é o cárcere. O lugar mais adequado atualmente, o único que Massachusetts
providenciou para seus espíritos mais livres e menos desesperançados, é sua
prisão, é ser preso e afastado do Estado por ação do Estado, assim como os
homens que já haviam se afastado por seus princípios. É lá que o escravo
fugitivo, o prisioneiro mexicano em liberdade condicional e o índio que vieram
protestar contra as injustiças sofridas por suas raças o encontrarão; naquele
espaço separado, porém mais livre e honrado, no qual o Estado coloca quem está contra ele – a única morada num estado
escravista no qual um homem pode permanecer com honra. Se alguém pensa que ele
perderia seu poder de influência, que sua voz não afligiria mais os ouvidos do
estado, que ele não seria um inimigo dentro de seus muros, então não sabe como
a verdade tem mais força do que o erro, nem como um homem pode combater a
injustiça com muito mais eloquência e eficácia quando ele mesmo dela já
experimentou um pouco.
7
Quando o súdito
recusar-se a ser leal ao governo e o funcionário se demitir do cargo, a
revolução terá se consumado. Mas vamos supor que haja derramamento de
sangue. Não há uma espécie de sangue derramado quando a consciência é ferida?
Com essa ferida brota a verdadeira humanidade e a imortalidade de um homem, e
ele sangra até a morte eterna.
8
Em termos absolutos,
quanto mais dinheiro, menos virtude, pois o dinheiro coloca-se entre o homem e
seus objetivos, e consegue-os para ele; e certamente não houve grande virtude
em obter dinheiro. Isso resolve diversas questões que, caso contrário, ele
seria obrigado a responder; a única pergunta nova que o dinheiro propõe é difícil,
porém supérflua: como gastá-lo? Um homem fica assim sem base para a moralidade.
As oportunidades de vida diminuem na mesma proporção que aumenta o que chamamos
de “meios”. A melhor coisa que um homem
pode fazer para sua cultura quando é rico é empenhar-se para pôr em prática os projetos que nutria
quando pobre.
Casa de Thoreau "Walden"