Pesquisar neste blog

quinta-feira

QUEM ERA HITLER?

Eu o conheci. E o conheci ao longo de dez anos. Muito de perto. Tanto no momento de sua glória como quando destruía todo seu universo de idéias e sonhos. Sei quem era: tanto o líder político, como o líder guerreiro. Sei quem era o homem; simplesmente um homem, sem mais. Tudo o que a seu respeito é permitido levar a público, me é absolutamente indiferente. O que sim me importa é a verdade, o que eu sei. Além disso, só a estupidez das massas pode fazer acreditar que um homem que conduziu cem milhões de alemães a segui-lo, pelo qual morreram milhões de jovens, não era mais que uma espécie de Sardanápalo ou de Nero, bebendo sangue, dia e noite, no grifo de sua loucura.

Ainda relembro tê-lo visto em Berlin, no primeiro de maio de 1934, montado no mais alto de um grandioso palanque no campo de aviação de Tempelhof. Centenas de milhares de devotados ouvintes ferviam debaixo de sua vista. No entanto, eu havia sofrido uma decepção. Sua eloqüência era pouco realçada, forçosamente rudimentar, bastante monocórdia. Um público latino teria sido mais exigente. Até sua ironia era estranha! Mais que uma eloqüência-arte, era uma eloqüência-força. O brilho de seus olhos também não me impressionou. Não esquadrinhava, como se diz, no olhar de seu interlocutor. Seu brilho não tinha nada de insustentável. Azuis, vivos, seus olhos eram belos; seu olhar era leve, novo, irradiava potência; mas não pretendia nunca intimidar, nem seduzir, e muito menos enganar. Podia vê-lo de frente, fixo e com insistência, sem ter a sensação de ser dominado ou de incomodar-lhe nem um pouco. A mão de Hitler não apertava tanto, era mais leve. Geralmente, e principalmente com verdadeiros amigos, Hitler não dava a mão, mas apoiava a de seu interlocutor entre as suas. Nunca me senti transgredido por tal contato, como a velha e louca princesa romena, nem nunca pulei pelos efeitos de uma deflagração.

Não necessitava nada, somente beleza. Com os direitos de autor de seu “Mein Kampf” comprou um maravilhoso Boticelli que pendurou sobre sua cama. Fora isso, nunca levava um único marco consigo e morreu sem deixar um só “pfennig”. Para ele, não existia este problema dos bens pessoais, do dinheiro próprio. Estou certo de que durante os últimos anos de sua vida, não pensou em si próprio nem uma única vez.

Tinha paixão pela música. Até um ponto incrível. Possuía uma memória auditiva apenas comparável a memória falada de um De Gaulle. Absorvia e retinha para sempre qualquer composição musical, ao escutá-la apenas uma vez. Por mais longa que fosse, a assobiava sem um só erro. Wagner era seu deus. Conhecia até o fim de suas composições.

Sim. Também conheci a “Blondie”, sua cadela dos últimos anos. O pobre animal coxeava ao seu lado, pela casinha de madeira, como se suspeitasse também dos trágicos riscos na Frente russa. O próprio Hitler lhe preparava a comida, pela meia noite, abandonando durante dez minutos os visitantes presentes para alimentar ao seu companheiro.

E suas companheiras? A respeito desse ponto, foi-se realmente para além dos limites da mais delirante imaginação, assim como do sadismo. Odiava as brincadeiras de corpos, com a que tantos homens – de pouca grandeza – gozam. Admirava a beleza feminina. Um dia se aborreceu porque sua secretária não lhe havia conseguido os dados de uma jovem extraordinariamente bela e radiante, que havia se lançado sobre seu carro para ovacioná-lo. Não para estabelecer um encontro com ela, como qualquer outro homem teria feito, mas porque queria enviar-lhe um ramo de flores. Agradava-lhe a companhia feminina. Conheci bem Siegried von Weldseck, a jovem mais bonita do Reich, alta, com os olhos claros, de pele maravilhosamente suave e lustrosa e seios pequenos. Qualquer um teria caído de paixão por ela. Passei ao seu lado as últimas horas agradáveis da guerra, precisamente quando ela foi ao meu setor do Front de Oder para recolher várias cartas que seu amigo Hitler lhe havia escrito. Pois bem. O essencial de suas relações com o líder consistia em ir a sua casa todas as terças-feiras, tal como a própria Siegried me contou, para ouvir música, sendo que ela sempre esteve acompanhada.

Milhões de mulheres alemãs – E não-alemãs! – se apaixonaram por ele. Tinha um armário cheio de cartas de admiradoras que lhe haviam suplicado a Hitler para que este as presenteasse com um filho.

Posso ainda acrescentar que o amor não lhe trouxe mais que tragédias. Hitler era, repito, um moço tímido. E tímido como uma garota que faz a primeira comunhão. Chegou-se uma paixão por dois longos anos, pela indicada Estefania. Entretinha-se desenhando o palácio, evidentemente wagneriano, no qual compartilhavam a felicidade juntos. De Viena, escrevia-lhe cartas inflamadas de amor, com uma letra enervada, entrecortada. Mas sua assinatura ficava ilegível e não deixava o remetente. “É verdade, me lembro muito bem. Mas faz tanto tempo desde tudo aquilo. Cinqüenta anos! Sim, efetivamente, eu recebia as cartas que você diz. Então, segundo você, eram cartas de Hitler?” Isto me dizia Estefania. Sua paixão de então nunca se apresentou nem nunca se atreveu a apresentar-se. Ela se casou. Agora vive em Viena, já idosa, viúva de um tenente-coronel. Foi o primeiro amor de Hitler.

Se o amor por Estefania não terminou em nada, todos os demais amores de Hitler não terminaram senão em catástrofes. Nenhuma das mulheres que tiveram entre os braços do homem mais importante da Europa terminou o romance sem um drama horrível.
A primeira se enforcou no quarto de um hotel.
A segunda, sua sobrinha Geli, se matou em seu apartamento de Munique, com sua própria pistola. Hitler ficou furioso. Durante três dias ficou isolado em seu pequeno apartamento da Baviera, disposto a suicidar-se por igual. Nunca mais a lembrança de Geli abandonaria sua vida. Seu busto sempre estava adornado de flores.
A terceira foi Eva Braun, sobre a qual se têm criado falsas lendas, no mínimo insensatas e às vezes grotescas. Também eu fui testemunho deste romance. Soube tudo dela. Era uma pequena empregada do melhor amigo de Hitler, o fotógrafo de Munique, Hoffmann, igualmente bom amigo meu. Estava louca pelo belo Adolf, todavia muito mau vestido naquele momento, com sua espantosa gabardina clara, sempre enrugada, a mecha de cabelo caindo como a calda de um pássaro morto, o nariz bastante grosso, apoiado sobre o bigode feito uma escova de dente.
Mas a bonita Eva, rechonchuda e rosada, lhe amava fervorosamente. Tentou fazer-lhe cair na armadilha de um beijo. Uma madrugada pediu a Hoffmann, seu chefe, que o chamasse por telefone para que lhes unisse durante sua festa pela noite. Ele saia pouco. Passava até as madrugadas mergulhado em seus estudos. No fim, deixou-se convencer e compareceu à reunião. No momento em que passava, sem se dar conta, debaixo do chafariz, a bela Eva, que esperava a ocasião, pulou em seu colo, seguindo o velho costume nórdico. Hitler ficou parado, duro como um recruta, deu meia volta, dependurou a gabardina no cabide e marchou à rua sem dizer qualquer palavra. Mas ali não terminaria o assunto. A pobre Eva estava mais apaixonada do que nunca. Começou, então, de novo, o drama. Quando se deu conta de que o querido Adolf era totalmente inacessível, também ela carregou um revólver e disparou-o em pleno coração. Quase todos ignoram aquele frustrado suicídio. Mas dez anos antes de tirar a própria vida ao lado de Hitler, Eva Braun já havia desejado suicidar-se uma vez, por seu amor a ele. Depois das duas mortes precedentes, havia motivos para se assustar. Eva não morrera. Hitler queria saber se realmente tinha sido uma tentativa de suicídio ou simplesmente um teatro para impressionar-lhe. O informe do Professor da Universidade de Munique, que a examinou a pedido de Hitler, foi categórico: Eva havia falhado em sua tentativa de suicídio por alguns poucos milímetros. Realmente, era uma paixão integral, que a havia feito ter preferido a morte diante o fracasso de não ter podido dar a seu bem-amado todo o impulso de sua vida. Foi então quando Eva Braun entrou na vida de Hitler.

Outro tiroteio feminino iria ter lugar debaixo da sacada de Hitler, no primeiro dia da Segunda Guerra Mundial. Desta vez era uma inglesa que tentava suicidar-se. Era uma garota maravilhosa. Eu a conheci e a admirei, bem como suas irmãs, uma das quais estava casada com Oswald Mosley, o líder dos fascistas ingleses. Todas eram bonitas. Mas Unity – Unity Mitford – era como uma deusa grega, alta, magra, loira, o tipo germânico perfeito. Havia imaginado que Hitler e ela poderiam encarnar a aliança teuto-britânica com a que Hitler sempre sonhou e que ainda evocava, dias antes de morrer. Unity seguia Hitler em todas as partes. Quando este passava entre as massas para alcançar o palanque, ali estava ela, resplandecente, transfigurada. Sempre, um tenro sorriso iluminava por um instante o áspero rosto de Hitler quando a via. Quando, no três de setembro de 1939, estourou a guerra contra a Inglaterra e Unity entendeu que seu amor se desaparecia, passou pelo alicerce de rosas que floresciam sobre as janelas do escritório do Führer e tirou a pistola de seu bolso. A bala lhe atravessou a cabeça, mas não a matou. Então, ocorreu algo verdadeiramente extraordinário. Depois de Hitler ter confiado Unity aos melhores cirurgiões do Reich, que a salvaram (todos os dias, em plena guerra com a Polônia, ele enviava rosas a ela) organizou sua volta à Inglaterra. Era o inverno de 1939-1940 e os principais países do continente já haviam entrado no conflito armado. Contudo, Hitler conseguiu com que um trem especial levasse a ferida não somente através da Suíça, mas por todo o território francês até Dunquerque, de onde um barco, sobrevoado e protegido pela Luftwaffe, conduziu-a até sua pátria. Tudo foi inútil. Unity sobreviveu durante as hostilidades, destroçada pela aflição. Depois, deixou-se morrer, quando o corpo de Hitler desapareceu entre as chamas do jardim da chancelaria, no dia 30 de abril de 1945. Assim, não restou mais do que Eva a partir de 1939. Seu papel até o final foi modesto. Isto eu posso dizer. Eva escrevia. Pela noite, próximo às dez horas, chamava ao Führer pelo telefone. Limitava-se a isto aquele amor, tão discreto quanto pouco romântico. Somente ao final da guerra se deparou com uma conclusão grandiosa. Quando Eva se deu conta de que tudo se derrubava, lançou-se de avião sobre o forno de Berlim para poder morrer ao seu lado. Foi então quando, no último dia de sua existência, para honrar nela o valor da mulher alemã e o sacrifício da amante que preferia morrer antes de sobreviver ao que amava, Hitler casou-se com ela. Não tinha se casado anteriormente com nenhuma outra, nem com ela, porque sua única mulher era a Alemanha.

Politicamente falando, nunca nenhum homem na Terra levantou a um povo como Hitler o fez.
Contudo, teria de ser muito astuto aquele que descobrisse, agora, na massa do povo alemão, um ex-hitlerista que o confessasse sem temer. A verdade é que praticamente todos os alemães foram hitleristas desde o principio, ou mais tarde. Cada eleição, cada plebiscito, contribuiu para que Hitler tivesse uma adesão mais palpável e, ao final, quase unânime. O povo votava nele porque queria realmente fazê-lo. Ninguém lhes obrigava. Ninguém os controlava. Desta forma, aconteceu tanto no território do Reich quanto entre os que estavam sob um controle ainda estrangeiro (Sarre, Dantzig, Memel). Os resultados foram idênticos. Dizer outra coisa seria falso. Em cada eleição, o povo alemão demonstrou que estava totalmente ao lado do seu Führer.

E por que não deveriam estar com ele?
Hitler havia tirado este povo do estancamento econômico. Havia dado trabalho a seis milhões de desempregados já sem esperanças. Centenas de novas leis sociais que garantiam-lhes o trabalho, assegurando a saúde e afirmando a honra do trabalhador. Para o povo, Hitler havia inventado o carro popular, o Volkswagen, pagável a um preço insignificante e em vários anos. Seus barcos de férias levavam milhões de trabalhadores para passear, desde os fiordes da Noruega até as ilhas Canárias. Havia revivificado a indústria do Reich, a mais moderna e eficaz do continente. Um quarto de século antes que a França tentasse imitá-lo, a Alemanha estava repleta de autoestradas esplêndidas. Havia conseguido a união da Nação, devolvido um exército a um país que somente tinha direito, até então, de possuir tanques de papel. De um país vencido, esgotado, com três milhões de mortos na Primeira Guerra Mundial, havia feito o país mais forte da Europa.
Mas, sobretudo – e isto se esqueceu, apesar de tratar-se da principal idealização de Hitler, que mudou politicamente a Europa –, havia reconciliado a massa trabalhadora com a Pátria.

O mais extraordinário de Hitler – e a história algum dia reconhecerá isto – foi seu gênio militar. Gênio eminentemente criador. Gênio fulgurante. A invenção da estratégia moderna foi, verdadeiramente, obra sua. Mais ou menos convencidos, os generais de Hitler aplicaram os seus ensinos. Por si próprios, não teriam sido mais valiosos do que os generais franceses e italianos de sua geração. Da mesma forma que estes, tinham o atraso de uma guerra. Apenas haviam compreendido, antes de 1939, a importância da ação combinada da aviação e dos tanques que Hitler lhes obrigou a aplicar.

Militarmente, Hitler era um inventor. Sempre se falou dos possíveis erros que cometeu. O extraordinário teria sido que, obrigado a inventar sem nenhuma pausa, não tivesse cometido erro algum. Mas, além da estratégia de agrupação motorizada das forças de Terra e Ar – que se ensinará nas escolas militares enquanto o mundo existir –, inventou operações tão variadas como o desembarque na Noruega, a conquista de Creta, a adaptação da guerra blindada às areias africanas – na qual ninguém havia pensado até então – e até as pontes aéreas. A de Stalingrado foi muito mais difícil, complicada e perigosa do que a que fora levada a cabo pelos americanos em Berlim, dez anos mais tarde. Hitler conhecia detalhadamente os motores; cada vantagem e desvantagem das peças de artilharia; cada tipo de submarino ou de barco, e a composição da frota de cada país. Seus conhecimentos e sua memória sobre estes aspectos eram prodigiosos. Ninguém pôde lhe surpreender nem por uma só vez nestes pontos. Sabia mil vezes mais que seus melhores especialistas.
Além disso, tinha de ter a força de vontade necessária.
E ele sempre a teve; e em um grau superlativo.
Politicamente, somente sua vontade de ferro pôde romper todos os obstáculos. Somente ela lhe permitiu vencer as fantásticas dificuldades, frente às quais qualquer outro teria fracassado. Essa vontade levou-o ao poder, respeitando as leis, legitimamente reconhecido pelo Reichstag, no qual seu partido, o mais numeroso do Reich, era ainda minoritário no dia em que Hindenburg lhe designou como Chanceler.

Força e astúcia. Hitler era hábil, obstinado. E também jovial. Tem-se descrito ele como um selvagem, que, de raiva, se atira ao chão e devora as almofadas. Passei vários dias e noites próximo de Hitler, ao seu lado. Nunca presenciei uma dessas cenas de cólera, tantas vezes divulgadas. Que em alguns dias as tenha tido, não é impossível. Que homem com mil vezes menos preocupações que Hitler nunca perdeu os nervos?

Hitler era moderado. Desde o ponto de vista religioso, adotava posições bastante pessoais. Não suportava as intromissões políticas do clero, o que não podia repreender. O que era impressionante era a sua idéia sobre o futuro das religiões. Em sua opinião, era inútil combatê-las, persegui-las; as descobertas científicas, esclarecendo os mistérios – essenciais para a influência das igrejas –, a evolução rumo ao conforto, fazendo desaparecer uma miséria que durante dois mil anos havia aproximado a Igreja de tantos seres desgraçados; tudo isto, segundo ele, reduziria cada vez mais a influência das religiões. “Ao cabo dos séculos – me dizia –, de três séculos, algumas se extinguirão, outras experimentarão uma debilidade quase total”.

QUEM ERA HITLER?
LEÓN DEGRELLE